Existem inúmeras técnicas e ferramentas de pensamento visual. Este artigo pretende explorar apenas uma delas, a facilitação gráfica. Quero compartilhar com você, caro leitor, por que gosto tanto dela! Você sabia, por exemplo, que ela pode ser uma aliada poderosa ao auxiliar na navegação de incertezas sobre um projeto ou assunto?
Então, precisa de ajuda para buscar convergência de significados entre participantes de uma equipe multidisciplinar? Ou até para acessar rapidamente a memória sobre os principais tópicos de uma discussão complexa? Em todos estes pontos a FG pode ser muito útil! Curioso(a) o suficiente? Então vamos nessa.
Pensamento Visual e Facilitação Gráfica? O que são? Do que se alimentam, onde moram e como sobrevivem?
A facilitação gráfica é uma das ferramentas do canivete suíço conhecido como Pensamento Visual. A origem deste, pelo que se conhece, vem do Vale do Silício, na sempre moderna Califórnia. Nas décadas de 60 e 70, a efervescente cena de desenvolvimento tecnológico permitia misturar profissionais de áreas tão distintas como artes, engenharia, arquitetura e ciências da computação. As dificuldades inerentes em conjugar Picasso, Le Corbusier e Leis da microeletrônica de Euler na mesma frase propagaram a necessidade de experimentar formas mais convergentes e universais de linguagens. Eis que surge um grupo de institutos de pesquisa e consultores que, inspirados nas imagens de grande escala da arquitetura, lançaram mão de uma enxurrada de símbolos e ícones gráficos para trazerem todos esses diferentes temas para a mesma tela. Você pode ler mais a respeito da história de origem pelo excelente artigo da Christina Merkley (clique aqui).
A Facilitação Gráfica (do inglês Graphical Recording) se destaca como uma das principais e mais conhecidas formas de pensamento visual. A técnica consiste em destacar um ou mais profissionais para acompanharem um diálogo (seja de um pequeno grupo conversando entre si, uma palestra ou mesa redonda) e criarem uma ata visual daquele diálogo. Todos os termos, conceitos e palavras-chaves trocadas entre os participantes são transformados em símbolos ou grafismos e organizados em uma folha de papel, geralmente de grande escala, como 1m x 2m. Existem vários métodos para garantir uma boa organização da informação, como criar trilhas de migalhas de pão (organização cronológica da informação), categorização de assuntos (organizar a discussão por grandes blocos), analogias visuais (criar um cenário que guia o sentido e ritmo da informação, por exemplo, aludindo a um cânion para discutir sobre barreiras e caminhos a seguir), etc. Se você quiser saber mais sobre facilitação gráfica, dê uma olhada no site Facilitação Gráfica, da Camila Rigo (clique aqui).
Na Hélice nosso uso predileto para a FG é no registro de sessões de geração de alternativas, como em reuniões de largada de projetos, onde nosso objetivo é entender junto ao cliente tudo o que ele sabe e tudo o que ele deseja com aquele determinado projeto.
Case de Aplicação de Pensamento Visual a um Projeto Corporativo
Memória da reunião de construção do briefing
Visando o anonimato, vamos olhar um estudo de caso de um cliente da Hélice, o cliente X. Nós fomos contratados para um projeto de investigação sobre a cultura organizacional do cliente. Nosso método começa com uma reunião de largada. O objetivo é chamar todo o comitê executivo do projeto (em geral composto pela diretoria e alta gerência) para reconstruirmos o briefing do projeto, em termos de entender por onde passamos, onde estamos e onde queremos ir.
A reunião e o diálogo fluem através de uma espécie de roteiro estruturado aplicado a um grupo focal. Nós reconstruímos toda a cronologia recente da instituição, delimitando pontos de mudança, atritos gerados e aprendizados colhidos. A nossa equipe se divide em dois papéis: 1) Facilitador do Diálogo, puxando as perguntas, garantindo que a equipe do cliente possa expandir a consciência sobre o assunto ao mesmo tempo em que se mantém focada no tópico em questão; 2) Facilitador Gráfico, responsável por fazer a colheita visual da discussão, tarefa árdua visto que a conversa do grupo segue uma linha orgânica, pulando entre momentos cronológicos e temporais distintos, baseados nas experiências e percepções de cada participante do grupo.
Ao final do processo de reconstrução da história recente, passamos para um ponto de imaginação do futuro que queremos. O Facilitador do Diálogo usa recursos como imaginação ativa para instigar o processo criativo, e o Facilitador Gráfico usa recursos de categorização instantânea (usando post-its na medida em que cada participante relata o seu ponto de vista). Desta forma, temos um registro completo, visual, lúdico e com facílimo acesso à reconstrução da memória da reunião, algo muito importante para entender o quanto que o processo de investigação se aproxima ou se afasta daquela visão inicialmente compartilhada pela equipe participante do cliente.
Auxílio na etapa de processamento da investigação
Após a reunião de largada, o próximo passo é mergulhar na cultura corporativa do cliente X. Montamos um roteiro de entrevista em profundidade e aplicamos em todas as principais unidades de negócios da instituição. Desenvolvemos dinâmicas, estilo focus group, para entender as regras de interação social. E adivinha? Tudo isso usando nossa “colinha gráfica”, o painel de Facilitação Gráfica, como guia para construção dos principais pontos de observação. Fica muito fácil lembrar os principais pontos através das analogias visuais construídas, o que facilita nosso processo de análise e diagnóstico.
Depois da etapa qualitativa de análise, montamos um questionário eletrônico quantitativo com intuito de identificar a relação estatística de convergência e divergência entre os fenômenos abordados na reunião de largada e identificados durante a fase qualitativa. Uma vez aplicado o questionário, nós comparamos todos os resultados encontrados com o nosso painel de Facilitação Gráfica. Estabelecemos, assim, uma maneira visualmente aferível para identificar onde a percepção do Comitê Executivo do projeto se aproxima com os dados levantados nas fases quanti e quali e onde efetivamente eles divergem. A construção do plano de ação nasce facilmente dessa interpretação.
Crédito para as todas as fotos e imagens deste artigo são Vivian Ribeiro, Fernando Carlini Guimarães e Lara Hisae Rösler, desenvolvidas para Hélice Soluções para Inteligência e Criatividade LTDA ME.
E aí? O que achou do processo? Dúvidas? Contribuições? Sugestões? Quero muito ouvir a opinião de vocês!
Texto originalmente publicado pelo Fernando Carlini Guimarães, sócio da Hélice Soluções de Inteligência e Criatividade para Estratégia LTDA ME, como artigo na sua página do LinkedIn. Veja o link original aqui.